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A exposição “Quando sonhei que era uma montanha”, da artista visual Corina Ishikura, utiliza a típica relação dicotômica tão cara ao pensamento hegemônico ocidental; porém, e aí reside uma das chaves de compreensão de seus trabalhos, essa relação não é de oposição e sim de integração. Ishikura se vale da união ou junção de coisas que, segundo o senso comum, seriam diferentes ou opostas. Ela age levando em conta que aquilo que nos rodeia, incluindo nós mesmos, encontram-se em situação intermediária: são naturais e culturais ao mesmo tempo 1. A disposição dos trabalhos buscou, portanto, enfatizar o binômio natureza-cultura a partir do espaço expositivo da GAIA. No trecho de entrada da galeria são apresentadas as series “Sendas I e II”, “Remanso urbano” montadas nos painéis laterais à direita (duas séries com quatro trabalhos cada e uma com cinco) e à esquerda “Pavilhão transitório”,(serie com treze trabalhos). Usando o papel como suporte, preparam o espectador efetuando uma “descolonização do olhar” para que possa ocorrer a possibilidade da “descolonização do pensamento”, na precisa e feliz definição do etnólogo Viveiros de Castro. Do olhar para o pensamento, a artista constrói composições silenciosas, com poucos elementos; cores suaves, formas simples e alterações quase impercetíveis ou surpreendentes em seu minimalismo e que justificam o uso da serialização, não para enfatizar a repetição, mas a diferença. Destas series para o vídeo e a peça tridimensional “Rito da cidade”, fica estabelecida uma coerência e abordagem dos assuntos que mobilizam a artista que independe da linguagem utilizada. A junção de materiais “naturais “e “não naturais” na escultura (podemos chamar a peça tridimensional dessa maneira) coloca em discussão justamente a própria ideia de “natural“, “orgânico” ou “unidade”. Assim como no vídeo onde as imagens divididas tornam-se híbridas, dadas as semelhanças que surgem quando justamente suas diferenças são colocadas em um mesmo espaço. Essa ideia de um corpo híbrido, um corpo-objeto, que se expande para um corpo-paisagem está presente ao lado da projeção de vídeo nos trabalhos “por trás das árvores, a escuridão das paredes” e “In(h)umano”; ou em diálogo com a escultura, como na série “por trás das árvores, o azul do céu”. Nessa concepção de um corpo-paisagem, mais uma vez estão presentes as diferenças que unem, integram. Ainda que as paisagens que surgem sejam indefinidas ou insondáveis (ou será que o nosso olhar ainda não se “descolonizou” o suficiente?) ordenações ortogonais se integram à sinuosidade da linha, numa organicidade que desestabiliza o espaço ordenado (série “Fronteiras”); ou como partes de mapas estelares permeados por matéria escura (que compõem grande parte do Universo, mesmo não sendo visível) , ou ainda estrelas num céu noturno, vistos a partir de Gaia (tanto da galeria quanto da Terra) na série de trabalhos que compõem “Há algo de sólido no brilho do céu”. A separação entre res cogitans e res extensa nos levou a extremos. Justamente onde estamos agora. Estes espaços limítrofe que construímos, destruindo a ordem anterior, tem de ser nosso ponto de partida. Ainda que esta visão de mundo integrada de natureza e cultura, pessoas e coisas, matéria e espírito tenha muitos pontos em comum com sociedades arcaicas e conhecimentos ancestrais, sabe-se que se trata de um passado irremediavelmente perdido 2. Trabalhos como os de Corina Ishikura nos re-apresentam aquilo de que fomos separados, mas com a consciência de que não podemos mais reaver 3. É preciso habitar o que foi destruído, reativar a junção corpo-espírito e perceber que a integração se dará não através, mas juntamente com a ciência e algo que ainda chamamos de racionalismo. É preciso inventar outros nomes, outros saberes, outras competências. Entender outras cosmologias e outras ciências. Descolonizar o olhar.

Marcelo Salles, julho 2024

1 Descola, Philippe – Outras naturezas, outras culturas – ed.34 pg.8

2 Esposito, Roberto – As pessoas e as coisas – Rafael Copetti Editor, pg.9

3 Stengers, Isabelle – Reativar o animismo – edições Chão de feira.

 

 

 

 

 

 

Neste trabalho, sem título da Série Mundo, Vasto Mundo (2024) a artista Corina Ishikura gravou à laser sobre um superfície de madeira o mapa da cidade de Bastos, uma cidade de cerca de 20mil habitantes no interior de SP conhecido pela comunidade nipo-brasileira pela alta concentração de famílias imigrantes que se alocaram neste local.

Em detalhe, a partir da cartografia da cidade, a artista destaca em linhas vermelhas as ruas, vias e praças que possuem seus nomes em referência às famílias japonesas que lá se alocaram.

Pensar território, para a artista, é sobre ver os corpos e populações que ali circulam ou se fazem presentes, mas também como se tornam parte da cidade, seu passado e presente.

No caso de Bastos, que basicamente foi fundada por famílias imigrantes do Japão, destacar esta história é vital para entender o fluxo dessa diáspora no país. Ainda que grande parte já tenha saído da cidade, seja indo para o Japão ou deslocando-se internamente pelo país, a cidade ainda possui a maior porcentagem de pessoas de origem asiática do Estado de São Paulo, com 11,4% da população.

Na arte contemporânea, o debate sobre pertencimento e território é uma constante que se dá por diversas linguagens. Esta obra de Corina Ishikura faz parte da nova série Mundo, Vasto Mundo, no qual a artista se debruça sobre mapas, para identificar locais e logradouros que têm significância para as populações racializadas, em especial as asiáticas.

 

Curadoria: Juily Malani.  Allan Yzumizawa.  Alex Kawei Tso, abril 2024

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Obra:
Corina Ishikura
Gravação a laser e tinta acrílica e caneta sobre madeira
80x65cm

Fonte: https://www.instagram.com/p/C6RUItjrmsw/?img_index=1





A pesquisa de Corina Ishikura (1964, São Paulo, SP- São Paulo) parte de uma visão contemporânea de mundo onde natureza e cultura, pessoas e coisas, matéria e espírito estão integrados e, assim, reflete conceitualmente sobre a problematização dos espaços e tudo o que emerge e se desdobra dessa perspectiva complexa e relacional para além da simples coexistência com o planeta. Ela se utiliza da ciência e da tecnologia com materiais como madeira, papel, evidenciando na instalação, desenho e pintura, seu posicionamento crítico na forma como experiencia o mundo. Na exposição Outras Paisagens, com curadoria de Juliana Crispe e realizada no Museu de Arte Contemporânea MAC Niterói, ela apresenta a obra Pilares Desmedidos, feita em 2023, onde expressa esse pensamento.

Corina Ishikura, abril 2024


Fonte: https://culturaniteroi.com.br/blog/macniteroi/6081

A exposição "Fazer e Desfazer Paisagens" convida os visitantes a explorar a pintura de paisagem sob uma nova perspectiva, desconstruindo as relações tradicionais da representação e questionando seu caráter ocidental de dominação. Ao longo dos séculos, a pintura de paisagem se deslocou de um mero pano de fundo figurativo para protagonismo enquanto assunto de discussão dentro das produções artísticas.

Esses elementos estão associados à perspectiva ocidental que o Homem branco estabeleceu como forma de objetificar a completude dos componentes encontrados na natureza. (...) Os trabalhos apresentados buscam desconstruir elementos tradicionais, como ponto de fuga, tridimensionalidade, representação objetiva da natureza, entre outros.

 

(...) Existe, portanto, uma dimensão corporal e subjetiva da dinâmica espacial, o que difere muito das representações na pintura clássica, onde a natureza é apenas um fundo para a figura. Corina Ishikura também traz esse questionamento em muitos de seus trabalhos, combinando elementos da natureza com elementos geométricos. Esse contraste demonstra duas dimensões da forma como nós lidamos com a natureza e sua espacialidade: dominação e diálogo.          Assim, as visualidades apresentadas por ambas as artistas indicam as múltiplas possibilidades que podemos explorar na construção da paisagem em nosso cotidiano. (...)

 

 

 

Allan Yzumizawa, janeiro e julho 2023

SEM HIERARQUIAS

 

O LUGAR – A Sala Metrô Tiradentes que faz parte da administração do MAS - Museu de Arte Sacra - é uma galeria de arte dentro da estação, o que torna este espaço cultural um lugar democrático, com acesso livre a todos os usuários do metrô. A variedade de transeuntes incluindo gênero, etnia e religiosidade está no cerne do conceito que rege esta exposição – a diversidade.

A EXPOSIÇÃO – diversidade significa ser diferente, distinto, variado, discordante, dessemelhante, divergente e outros mais sinônimos.

A Revolução Industrial e especialmente os meios de comunicação, foram os grandes agentes impulsionadores da diversidade instaurando, juntamente com outros veículos, uma cultura de massa. A arte não ficou imune a essa contaminação e a essa heterogeneidade que passaram a fazer parte da sua linguagem. Novos recursos técnicos geraram uma reprodutibilidade que, no âmbito da produção artística, proporcionou a ampliação do campo da pesquisa e da produção das imagens. Imagens resgatadas de diferentes fontes, passaram a conviver sem choques. A produção artística anteriormente restrita a uma hierarquia tradicional ganhou liberdade e independência para existir e afirmar seus valores, sua não-linearidade, advindas de diferentes tempos e de vozes.

SEM HIERARQUIAS apresenta ao público, que transita pelo metrô, a produção de três artistas mulheres, com percursos artísticos já estabelecidos no sistema da arte, para mostrar a diversidade de suas poéticas.

AS ARTISTAS : Corina Ishikura, Cristina Suzuki e Jussara Marangoni.

Corina Ishikura - Agamben2 no seu texto “O que é o contemporâneo” nos diz, metaforicamente, que precisamos perceber, no escuro do nosso tempo, a presença da luz que procura nos alcançar e isso seria algo que nos concerne. Sim, o artista é aquele que, com sua arte, nos faz ver aspectos da atualidade e compreender questões urgentes que o mundo nos convoca. Há algo sólido no brilho do céu apresenta com pontos luminosos o registro dos municípios de um Estado onde cada cidade possui pelo menos uma unidade de correio. A pesquisa foi feita por meio de um levantamento tecnológico que permitiu, com base nos CEP, a visualização dos municípios. Em seu trabalho a artista discute a relação do Homem com seu contexto, seu entorno e com a tecnologia de seu tempo, abordando diversas questões muito contemporâneas como mutabilidade, inconstância e imprevisibilidade. Na era da internet e do Instagram será mesmo necessário todos esses pontos físicos de correios?  Estamos imersos na escuridão e perfurando a solidez do nosso espaço com o excesso. O trabalho da Corina nos faz, mais uma vez, entender que não percebemos o nosso ambiente. Cada trabalho nos entrega visualmente, um céu estrelado, não sabemos o nome das estrelas nem mesmo se ainda estão lá... o mesmo acontece com esses não-lugares.

Nancy Betts, junho 2023

  1. Mikhail Bakhtin – filósofo e linguista russo.

  2. Giorgio Agamben – filósofo (estética e política) italiano.

  3. Bruno Latour – antropólogo, sociólogo e filósofo francês.

 

 

Este projeto é fruto de uma série de encontros e leituras de portfolios realizados online com a curadora e artistas que se encontraram de diversas maneiras e perceberam muitas coisas em comum entre seus trabalhos e suas vidas durante estes dois últimos anos tão inesperados e incompreensíveis.  

Durante as conversas, foram discutidas muitas analogias entre seus trabalhos, em especial as questões envolvendo a casa, o corpo, e o fato de, como a questão do confinamento ocorrido durante a pandemia, as levou para discussões sobre as mudanças em nossa maneira de nos relacionar com nosso corpo e com o lugar onde habitamos. Objetos e lugares cotidianos passaram a se tornar o tema em questão, assim como nossa própria existência. A natureza e o cosmos também estão presentes nos trabalhos destas artistas, que nos levam a refletir sobre o sentido da vida. (...)

  

 A artista Corina Ishikura, descendente de japoneses, traz para suas pinturas, fotografias, objetos e instalações questões muito próximas à cultura oriental de respeito pela natureza e pelo ser humano, e de como tudo está interligado no Universo, nos levando a refletir sobre a relação do homem com o mundo, de como fazemos parte de um todo e de como este fato é mágico e real ao mesmo tempo.  "Tenho como base o conceito de Interser: cuja etimologia está́ na combinação do prefixo inter, que traduzido do latim significa o espaço entre ou um interstício; com o verbo ser, uma espécie de estado imanente e inescapável de presença no mundo. Conceito este que se aproxima da filosofia oriental na proposição de aproximação entre o ser e mundo. “  (...)

Rejane Cintrão, novembro 2022

 

 

 

“O Homem é também o lugar do desconhecimento

- desse desconhecimento que expõe sempre o seu pensamento

a ser ultrapassado pelo seu ser próprio e que lhe permite ao mesmo tempo

vir a si a partir do que lhe escapa” 1 .

 

 

Há quase quatrocentos anos um humano sistematizou a cisão entre matéria e espírito ou entre corpo e mente. Nessa ordenação, Descartes cindiu a coisa expansiva, os corpos (res extensa) e a coisa pensante (res cogitans). Essa divisão tornou o pensamento, através de dispositivos como a ciência, uma condição vital do existir ocidental (cogito, ergo sum). Mas foi outra cisão que se tornou matriz e chave de compreensão para o mundo em que vivemos: a divisão entre pessoas e coisas, que ocorre no distante período greco-romano. Este espaço dicotômico se tornou a visão de mundo hegemônica. Os avanços da sociedade moderna e contemporânea, para o bem ou para o mal, nos levaram, no momento presente, a questionar essa relação estabelecida como única saída possível para diminuir os impactos destruidores deste modo de vida. Sob pena de perdermos não só nosso modelo, mas também a própria vida que dá sentido a ele. . . .   A arte é algo que pode nos fazer pensar. Ela é uma linguagem que busca o questionamento, mais do que a narração; que nos re–apresenta algo, mais do que representa aquilo que já conhecemos, o que estabelecido está. As séries de trabalhos, mais uma instalação e um site-specific, de Corina Ishikura nesta exposição seguem esta linha do questionamento; penso que isto se faz utilizando da típica relação dicotômica, no caso o binômio natureza–cultura, mas ao invés da separação ela se vale da união ou junção de coisas, segundo o senso comum, diferentes. Ela age levando em conta que aquilo que nos rodeia, incluindo nós mesmos, encontram-se nesta situação intermediária: são naturais e culturais ao mesmo tempo2. O site-specific localizado na entrada da exposição está justamente nesse “entre”; a tela metálica que assume formas orgânicas é cultural ou natural? o galho de árvore é natural, mas a condição em que ele se encontra só é possível de um ponto de vista cultural; dito de outra forma, qual o grau de “natureza” que há, por exemplo, em arbustos ou quase árvores que nascem e se desenvolvem em viadutos ou construções abandonadas? Ou como dois materiais diferentes formam um corpo híbrido, um corpo-objeto, que se expande e nos remete a um corpo-paisagem? Inclusive, é a ideia de corpo-paisagem (conforme dito pela artista em uma de nossas conversas) que está em várias das séries apresentadas, sendo Por trás das árvores a escuridão das paredes onde isto está razoavelmente evidente devido a relação topográfica e espacial sugerida pela colagem e junção de papéis, impressos ou não. Nas séries Por trás das árvores o azul do céu e In(H)umano a relação topografia corpo continua existindo, mas há mudanças significativas. Ambas tem o desenho à tinta nanquim como estruturador da composição com sua expressividade autoral, em contraponto ao “anonimato” expressivo da colagem. Além disso, o uso da noção de diferentes escalas num mesmo plano (o enorme e o microscópico juntos em um mesmo desenho) traz uma certa estranheza, resultante da identificação de algo que nos parece familiar ordenado, mas de maneira inusual (numa aproximação do conceito freudiano conhecido como unheimlich). Coerentemente, a série de pinturas de Corina também usa de diferentes escalas, mas aqui isso é de ordem pictórica: o assunto a ser pintado se adequa ao tamanho físico das telas. Um resquício de paisagem ainda é identificável; porém esta paisagem é indefinida e insondável, uma matéria escura que tanto pode acolher constelações como um agrupamento de células. Mesmo quando os trabalhos parecem ter uma ordenação ortogonal isto não corresponde, necessariamente, a algo factual. Na série Fronteiras, a colagem de papéis impressos com grades se junta ao desenho, à sinuosidade da linha, às transparências, numa organicidade que desestabiliza o espaço ordenado. Em Há algo sólido no brilho do céu a ordenação indicada (abscissas e ordenadas graduadas nas laterais da tela) é apenas sugerida, quase como se pudéssemos nos localizar em mapas de aspecto estelar. . . . Semelhanças formais são características presentes em maior ou menor grau em objetos artísticos. Mas há um tanto de mistério quando essas semelhanças que seriam de matriz cultural, no caso da arte, encontram seu correspondente no mundo natural. Tendões e feixes de músculos se transformam em cordilheiras; árvores desfolhadas e aglomerados de células são assombrosamente semelhantes 3. Corina tenta nos mostrar uma visão de mundo onde natureza e cultura, pessoas e coisas, matéria e espírito fazem parte do mesmo lugar, onde não apenas interagem, mas estão integrados. Ainda que esta concepção tenha muitos pontos de contato com sociedades arcaicas, a maneira como ela chega até a contemporaneidade é a questão principal. São esses questionamentos que abrem as possibilidades de compreensão do lugar que, todos os entes, habitamos 4. Creio que Corina não espera que seus trabalhos resolvam, num passe de mágica, angústias de corpo e espírito que a contemporaneidade nos trouxe; na verdade esperar isto da Arte seria um tanto ingênuo e um fardo por demais pesado. Ainda que ela, como outros artistas contemporâneos pelo mundo, esteja olhando para sociedades e conhecimentos ancestrais, sabe-se que se trata de um passado irremediavelmente perdido 5. O ponto é abrir possibilidades, através do questionamento das re-apresentações, para nos entendermos enquanto seres que são formados por experiências individuais e coletivas unificadas e diferentes da trajetória cartesiana entre res cogitans e res extensa. É assim, como possibilidade, que podemos enxergar a instalação (Sem título) suspensa entre os pisos da Casa Contemporânea: como um mundo em que se evitou a queda ou como uma “espada de Dâmocles” temporariamente pendente.

 

Marcelo Salles, agosto 2022

NOTAS:

1. Foucault, Michel – As Palavras e as Coisas - Edições 70, pg. 425

2. Descola, Philippe – Outras naturezas, outras culturas - Editora 34. Pg.8

3. Buck-Morss, Susan – Benjamin e a obra de arte: técnica, imagem, percepção – Contraponto Editora. Ver páginas 182 e 183 (Bétulas podadas de Vincent Van Gogh e ilustração de células do córtex cerebral pelo anatomista Vladimir Betz)

4. Esposito, Roberto – As pessoas e as coisas - Rafael Copetti Editor

5. Idem, pg. 9

Modelos de Mundos 

 

Em uma imersão de uma semana na Gare Cultural, tendo como catalisadora a artista Corina Ishikura, um grupo de artistas teve a vivência de encontros com trocas, leituras e exercícios variados, expondo agora suas produções mais recentes.

 

Agrupados em diálogos pertinentes, dúvidas necessárias, formas e cores complementares ou discrepantes, assim como a vida é, modelos de mundos se conectam, reagindo às provocações do dia. 

 

Com pesquisas poéticas variadas e suportes como pinturas, desenhos, objetos, fotografias, gravuras e novas mídias, temos gerações e procedências diversificadas, tudo misturado entre convergências contemporâneas, onde o  discurso de cada um ganha força e coesão. ( . . . )

  

In[h]umano de Corina Ishikura: mundos imaginários, reais e fantásticos, conectados no orgânico. Como se das profundezas do oceano, comunidades integradas para uma dança espontânea.

 

Renato De Cara,  julho 2022

 

 

 

​( . . .)​ Além-vida

  

À guisa de conclusão, as artistas apresentam no espaço do Centro Cultural Correios uma meditação sobre o homem posto à intempérie da imaginação. Afirmando, com a intensidade de seus gestos e de seus pensamentos, sobre a importância tátil da experiência; reiterando que a humanidade se faz através do coletivo e que a coletividade, por sua vez, formula-se no contato e na sociabilidade. Primeiro a sociabilidade entre os iguais [as gentes, o povo] e, a seguir, a sociabilidade como contato com o que não é humano, com o que não consegue falar, com aquilo que simplesmente existe. E é neste lugar – no lugar das árvores e das montanhas, dos animais e das porções aquíferas do mundo – que as artistas formulam a paisagem como extensão da imaginação e, portanto, do humano.

 ( . . .) ou  com os corpúsculos sobre laminas de microscópio ou mesmo papel feitos por Corina Ishikura; entende-se que independentemente da escala, o ambiente está sempre em movimento, metamorfoseando-se em algo novo. Porque, afinal, a natureza não guarda passado nem projeta futuro, ela [i. e. a natureza] não têm humanidade ou misericórdia, existindo no eterno presente. Porém a imaginação humana e nosso esforço coletivo em existir pode expandir este limite entre o mundo natural e o cultural, contaminando a tudo. Integrando o que deveria ser contraditório. Afinal, se tudo que é sólido desmancha no ar, então porque não criar zonas de contato entre aquilo que não é sólido [por exemplo a imaginação humana] e aqueles que respiram? Com sorte, ao se responder esta inquisição conseguir-se-á colocar o coletivo humano como uma parcela da paisagem e não em oposição a ela.  (. . .)

  

Paulo Gallina,  março 2022

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